18/08/13

Entardecer


















Desta vez, traz me apenas quase tudo
Vem num sorriso simples de amizade
abrir em mim segredos de ternura,
tesouros de silêncio, sobre a tarde
viva, da nossa vida que se esfuma.
Que o nosso abraço seja o resto, o nada,
o mundo, a falta em que se esquece tudo
Adentro o amor de sermos cumplicidade
sorrindo na alegria de existir,
sem tempo, neste tempo de passagem.
Depois, nesse em que temos de partir,
que permaneça a essência da coragem
de ficar, onde ser é resistir!

Eu









































Nem arrependimento nem saudade
de ninguém, nem de nada do que fiz.
Tão pouco por saber o que não quis
Isso diz qualquer falta de equidade.

Antes, aumenta a réstia de verdade
onde tudo foi, foi e satisfez,
e eu seria igual uma e outra vez,
- mil vezes, ante a mesma realidade.

Não, lei universal que nunca disse,
nem verdade à "monsieur de La Palice"
me obrigue a não deixar de ser assim...

Mas pelo anseio o tempo me trouxe
de querer possuir, outro que fosse,
o mesmo Amor em vão dentro de mim!

09/01/13

Quase



       Já quase tudo em mim é desencanto.
       Quase indiferença, quase nem tristeza
       Nem alegria, nem sequer frieza
       E sem calor de viva por enquanto,
       Neste estar quase morta de quebranto.
       Busco quase nada, nem certeza,
       Dúvida, fealdade nem beleza,
       Debilidade, força, riso ou pranto,
       Nem o teu rosto quase sei se quero,
       Ou se alguma vez quis vê lo,
       Se espero em desespero,
       Durmo ou fantasio...

       É como ter vivido milhões de anos
       E quase sempre, quase desenganos
       Me enchessem quase toda de vazio !

    
     

Ter razão cedo demais é errar !





Eis me aqui, acocorada neste canto, envolta em pensamentos vagos, palavras soltas,  que me   inquietam o espírito – ter razão cedo demais  é errar !
Numa outra idade, eu não existia ainda senão aos meus próprios olhos e aos daqueles amigos que deviam duvidar de mim, como eu própria duvidada. Já nessa época compreendi que poucos homens se realizam antes de morrer.
Hoje sinto me esmagada pela imensidão do mundo, o sentimento da idade e o dos limites que me encerram. Se algum dia tiver de sentir a tortura de uma qualquer maleita, essa vai sem dúvida encarregar-se de me submeter a ela, não tendo eu a certeza de conseguir em mim, durante muito tempo a impassibilidade de um deus guerreiro, mas terei pelo menos uma única hipótese, a de me resignar aos meus gritos.
Neste  momento ainda sou um ser embriagado de vida que não prevê a morte!

Sou como o amante disposto a tudo por um momento de vertigem!

Já tantas coisas se passaram depois desses ligeiros amores que, e sem qualquer dúvida, já lhes não reconheço o sabor; agrada-me acima de tudo negar que alguma vez me tenham feito sofrer. E, contudo, entre esses, há um que amei deliciosamente.
Dois seres que se prendem ao templo e aos acessórios desse culto que é o Amor; deleitam se com os dedos febris e tintos de hera vermelha, com as fragrâncias na pele, com mil subtilezas que realçam a beleza e que por inteiro a fabricam.

Mas ter razão cedo demais é errar!

Porque ao longo da vida  há sempre alguém para censurar as minhas fraquezas, embora eu me preocupe em manter livres os meus movimentos para ser fácil a minha aproximação, já que neste mundo  onde tudo não é mais do que um turbilhão de forças, dança de átomos, onde tudo está ao mesmo tempo em baixo e em cima, no centro e na periferia, neste mundo onde a dor existe ainda, mas o erro já não; este vago traçado de destino humano, no qual um olhar menos exercitado reconhece tantas faltas, que cintilam como desenhos no céu.

Mas ter razão cedo demais é errar!

- Nada impede tão facilmente um homem resoluto de continuar o seu caminho.

Amei deliciosamente aquele ser.
Admirei aquela indiferença quase altiva por tudo o que não fosse a sua delícia ou a sua verdade; subsistia nele um interesse desinteressado, o escrúpulo, todas as suas virtudes estudadas e austeras. Enternecia-me a sua rude doçura, com aquela dedicação sombria que prometia o seu inteiro ser mas, aquela submissão não era cega, aquelas palperas tantas vezes semi fechadas na aquiescência soerguiam-se;  os mais atentos olhos observavem-me de frente: sentia-me julgada.

Mas ter razão cedo demais é errar!

- Nunca fui senhora absoluta uma única vez e de um único ser!

Os rostos que procuramos desalmadamente escapam-nos: nunca é mais do que um momento...
Nesta minha vida onde tudo chega tarde demais, o poder, a felicidade também, adquire o esplendor do meio-dia pleno, o ensoalheiramento das horas de sesta em que tudo é banhado por uma atmosfera de ouro.  A paixão cumulada tem a sua inocência tão frágil, tal como a fragilidade da vida.
O futuro já pouco importa, deixei de tentar encontrar as respostas, as estrelas passaram a ser apenas admiráveis  desenhos na abóbada celeste, no enquadramento de uma esfera negra em pleno esplendor da meia-noite, porque a minha inocência é  a iniquidade, uma falsa nota a evitar
na harmonia dos sons!
Que violenta virtude, esta obsessão em não querer encerrar a minha vida sem ter saboreado a doce determinação de ser útil.
Não amo de menos, amo demais, mas o peso do amor, tal como o peso de um braço ternamente pousado sobre um peito, torna-se pouco a pouco difícil de suportar.
Encontro-me naquele momento da vida, em que a dança se converte em vertigem, em que o canto se acaba em grito.

Ter razão cedo demais é errar!

- Nada impede tão facilmente um homem resoluto de continuar o seu caminho.

                                      Nem o canto, nem o grito!


19/08/10

A outra face






















O meu tormento é deste mal só meu...
Este existir sem ter culpa nenhuma
Ser e saber que nunca poderei ser eu
costume assim, que nunca se acostuma.

Por certo algo de mim nunca nasceu
e sou dele fantasma, angústia e bruma
desse que sem ter sido, já morreu
espectro reflectido na penumbra.

Sou ilusão, tormento, a ponteira
desta caneta que a escrever sózinha
faz gota a gota a dor ser verdadeira.

Sou afinal as letras de uma linha
na qual nenhuma dor lá cabe inteira,

Mas que, a cada letra se adivinha.

Abraças-me-nos!























O maior erro das pessoas é querer encontrar
em cada um de nós, as
virtudes que não temos e, no entanto,
desinteressamo-nos por cultivar as que
realmente possuímos. Um homem que
pensa, que calcula, pertence á espécie
e não ao sexo, será que nos seus melhores
momentos escapa mesmo ao humano?
Quando penso no círculo estreito das
mulheres que se apresentam sempre com
adornos muitas, cuja beleza nunca fora
mais do que uma flor de juventude frágil,
nem o amor lhes consegue dar esplendor,
com certos azedumes, uma espécie de
áspera lealdade, entendo-as, mas não
me reconheço nelas.
Consigo ser tão diferente!
Espero que tenha chegado àquela altura
da sua vida, variável para todos os
homens, em que se abandona ao seu demónio
ou ao seu génio e segue uma lei misteriosa
que ordena que se destrua ou se transcenda,
gostava muito que a segunda opção fosse a
mais viável, não por mero capricho ou por
querer iludir-me, eu não me iludo, mas sinto
belo, quando a intimidade dos corpos, que
nunca existiu, seja compensada pelo contacto
de dois espíritos estreitamente identificados
um com o outro.
Acho que o nosso entendimento dispensou
confissões, explicações ou reticências:
bastavam pensamentos desenhados sob
a forma de escrita.
Sinto-me esmagada pela imensidade do mundo,
o sentimento da idade e, o dos limites que afinal
nos encerram a todos, ás vezes é como uma
obsessão, tal como se dá com o amor, que
impede o amante de comer, dormir, pensar e,
até de amar, enquanto certos ritos se não
cumprem.
A minha vida é uma questão de rotina, o
temporário prolonga-se, o exterior infiltra-se
no interior e, com o decorrer do tempo a
máscara torna-se face.
O ódio, a estupidez e o delírio tiveram em
mim efeitos duradouros, agora não vejo
razão para que a lucidez, a justiça e a
benevolência não tenham também a mesma
durabilidade.
Hoje, depois de longas ausências, é
tempo de fazer novos juízos e, de também
ser novamente julgada, já deixaram de censurar
as minhas fraquezas, hoje sou eu mesma que as,
censuro, as minhas derrotas adquirem um
esplendor de vitórias, amadureci, envelheci e
tornei-me numa pessoa melhor.
Agradeço ao meu passado por ter sido
bastante longo, para me ter facultado
exemplos e, não bastante pesado para
me esmagar.
Hoje, toda a explicação lúcida me
convence, toda a delicadeza me conquista e
toda a felicidade, ainda que momentânea,
torna-me moderada.
Nunca tive um sentimento de pertencer
completamente a alguém ou a qualquer lugar,
sempre fui estrangeira em toda a parte, mas
também nunca me senti isolada em parte
alguma.
Quis mudar isso, talvez também eu me
tenha abandonado ao meu génio e seguido
a lei misteriosa de me transcender, eu e
a minha mania de erguer fortificações,
mas em suma, foi a mesma coisa que
construir diques.
Presentemente, brindo ao ardor
rendendo culto á calma, o esplendor
aos pés da beleza, por tudo se resumir
em estarmos juntos, porque todo
o prazer sentido com gosto me
parece casto.

Abraço na ausência, no meu pensamento
presente, desejando que o futuro o encerre
numa sublime recordação.

Indelevel (de mim...)

Parei olhando o mar, redemoinhos
de água turbilhonada contra terra.
Vi na voracidade apocalíptica
dos elementos, acção furibunda
de energia constante retumbante
o movimento, forma, intensidade
E força, cor e fogo, desvario
deusa subtil, incessantemente de Amor vivo!

Por toda a natureza rediviva
quimérica, da essência efervescente
das tuas coxas-corpo universais
- Em cada vida efémera, toda minha
ficas diáfana, vórtice lembrança

Arco íris de tesouros virginais!



Adeus

















Um Adeus começou quando nos vimos
e nesse Adeus que ainda não parou
há tudo o que vivemos e sentimos
há tudo o que tivemos e passou.

Adeus foi a verdade que mentimos
foi chama, labareda que gelou
foi impossível sonho que dormimos
asa a fugir, na sombra que ficou.

Reclamo os beijos, os gestos, teus e meus
Verdade profunda, sabor a vida
em nós se renovando confirmava...

- Sem sabermos, o vácuo de um Adeus
era a nossa presença proibida

Que para além da morte nos ligava.

Alba



































Caminho sobre espaços de quimera
por essa corda bamba dos meus passos
que religam alvor de  primavera
á realidade feita de fracassos.

Serei poeta, sensibilidade que se gera
até ao fim do sonho, nos meus braços
até julgar que já ninguém me espera
até sentir a dor dos meus cansaços.

De apoteótico dar e receber
corpos e gestos que se reduzem a nada
do frenesim de Amar e de Viver!

Depois, nalguma irónica alvorada
serei apenas mulher a morrer
No abraço de uma noite eternizada.

Nocturno

Por toda a noite, num silêncio estranho,
doei á ventania o pensamento...
Fui pela cidade assim - ideia ou vento
a envolver as formas, ser tamanho
a adentrar as trevas onde tenho
além penumbra e luz, o sofrimento.

Chovia um verniz de esquecimento
corria eu, das sombra, o desenho...

- Vida!
Nem o infinito já me assombra,
se ser ideia ou vento, nada ou sombra
me confortas, que me importas?

Reduz-me ás ventanias invernosas,
vem encher-me de noites tenebrosas

E deixa-me brincar nas coisas mortas!